domingo, 30 de novembro de 2014

Quem é você Alasca? - John Green

Título original: Looking for Alaska - John Green


 "Antes"

Miles Halter é um garoto de dezesseis anos que gosta de ler biografias e colecionar “últimas palavras”. Ele não tem uma vida muito empolgante, não tem amigos, apenas colegas, dos quais nem gosta muito. Ao ler a última frase dita por François Rabelais (“Saio em busca de um Grande Talvez”), que passa a ser a sua preferida, decide ir atrás de seu próprio Grande Talvez. Miles pede para que os pais o matriculem no colégio interno em que o pai estudou, a Culver Creek, onde pretende descobrir novas maneiras de interagir com o mundo, com as pessoas, conhecer-se melhor, enfim, aventurar-se.
O colega de quarto de Miles é Chip Martin, um garoto baixo, forte e rebelde, que odeia os garotos ricos do colégio por princípio, e é ele quem apresenta Miles à Alasca Young.
Os fãs mais apaixonados por John Green vão ter que perdoar aqui, pois a melhor maneira de começar a descrever Alasca é dizendo que ela é um clichê. Calma, vou explicar:
Alasca é uma garota divertida, imprevisível e triste, que chama a atenção de todo mundo com seu jeito independente e que vira a cabeça de Miles de cabeça pra baixo. Bem, se nunca viu isso em nenhum filme, ou livro, ou série, avise-me… Mesmo assim, é uma personagem marcante e complicada, que justifica totalmente a sua importância na história.
Como é possível imaginar, Miles se apaixona por essa independência e imprevisibilidade da Alasca, mesmo que a amizade deles às vezes transcorra entre trancos e barrancos. A própria Alasca lhe diz uma vez:
“Sabe quem você ama, Gordo? Você ama a garota que faz você rir, que vê filmes pornográficos e bebe com você. Mas não a garota tristonha, mal-humorada, maluca”.
E ela estava certa, segundo o que o próprio Miles admite. O que me leva de volta ao protagonista…
Miles é um personagem interessante no começo, parece um adolescente deslocado como quase todos os adolescentes que conheci, parece-se comigo, aliás, no último ano do Ensino Médio que atravessei sozinha e passando os intervalos na biblioteca da escola. Sem drama. Só que ele decidiu muito antes de mim que estava na hora de tentar alguma coisa diferente, foi lá e fez. O que me deixou só um tiquinho irritada com ele é o seguinte: Miles não queria começar a fumar, mas lhe ofereceram cigarro e ele aceitou. Ele não queria começar a beber, mas lhe ofereceram bebida e ele bebeu. E continuou fazendo essas coisas que não queria fazer e a se transformar numa pessoa que não tinha a intenção de ser e eu comecei a me perguntar se, nesse ponto, ele estava realmente tentando descobrir quem ele era ou tentando ser quem gostariam que ele fosse.
Quando você pega um livro Young/Adult para ler, você tem que estar preparado para questões comuns da adolescência. A minha adolescência foi complicada, porque eu não conseguia me encaixar em nenhum lugar, achava que meus gostos eram estranhos e que ninguém conseguiria me entender. Foi apenas na faculdade, quando conheci pessoas que vinham de lugares diferentes, que tinham experimentado coisas diferentes, e que estavam em fases diferentes da vida, que percebi que eu não precisava mudar para me adaptar, que não era vergonha não ser igual a todo mundo, e que eu não era a única que tinha aqueles gostos que até então eu achava estranhos. Ou seja, foi apenas quando eu admiti que eu sou desse jeito, que sou nerd, que gosto de ler, escrever, conhecer o máximo possível da cultura pop, e que está tudo bem gostar mais de HQs do que de revistas de moda, que eu comecei a me sentir melhor comigo mesma, e as coisas começaram a mudar para mim. Até minha timidez, que sempre foi uma trava social poderosa, começou a diminuir.
Eu sei, cada um tem sua própria história, sua maneira de agir e seus limites, e é preciso sair da sua zona de conforto para descobrir coisas novas, mas não consigo deixar de sentir falta de um Miles - ou Gordo, como Coronel ironicamente começou a chamá-lo - mais consciente do que queria ou não fazer.
Outra coisa que me incomodou muito foi o apelo sexual adolescente, mas não vou comentar muito sobre isso, pois não chega a estragar a história... nem a acrescentar nada a ela, e esse é ponto.
Enfim, um evento X acontece e da início à segunda parte do livro:

"Depois".

É nesse momento que o verdadeiro propósito do livro aparece e as grandes questões levantadas por Alasca (“Como vou sair desse labirinto?”) e por Miles (“Saio em busca do Grande Talvez”) começam a ter suas respostas procuradas.
É aqui que o leitor percebe o quão diferente John Green é como autor para o público adolescente. Nada de triângulos amorosos melosos, o que está em jogo em seus livros é o amadurecimento, a essência do que é ser jovem, a valorização da vida e do que é realmente importante nela.
Mais uma vez John Green me ganhou com sua maneira única de combinar simplicidade com profundidade. Li esse livro em dois dias e sei que amanhã ou depois, vou ler de novo. “Quem é você Alasca?” superou minhas expectativas, pois eu achava, pelo pouco que eu tinha visto, que era apenas mais uma história sobre um garoto deslocado se apaixonando por uma garota descolada.
Eu estava errada. Ainda bem.

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