O primeiro romance da autora da
série Harry Potter, que se arrastou
por sete livros e mais três livros complementares (Animais fantásticos & onde habitam, Quadribol através dos séculos e Contos
de Beedle, o Bardo) é completamente diferente daquilo que seus fãs estão
habituados. À época de seu lançamento, e sob a sombra daqueles que acham que J.
K. Rowling deu apenas a sorte de escrever o livro certo para o público certo, Morte súbita carregou nos ombros a responsabilidade
de provar que JK não é apenas uma boa escritora, mas que sua carreira pode
sobreviver após, apesar e além de Harry Potter.
O livro foi lançado em 2012, e
acredito que muita gente esteve pensando exatamente como eu. Se por um lado não
se aguentavam de vontade de comprar o livro e descobrir como ele era, por outro
tinham receio de não sentir a mesma emoção na leitura dele, que sentiram ao ler
Harry Potter.
De fato, não senti as mesmas emoções,
mas isso não foi ruim. Como eu disse antes, Morte
súbita é completamente diferente dos outros livros da autora. É um livro
para o público adulto, ou o público que cresceu lendo seus livros, e procura discutir
questões como a vaidade e a hipocrisia da sociedade.
Para isso, JK escolheu como
cenário um pequeno vilarejo fictício no interior da Inglaterra, chamada Pagford.
A comunidade parece pacífica, conservadora e de certa maneira orgulha-se de seu
isolamento, o que a ajuda a preservar seu estilo de vida. Só tem uma coisa que
incomoda os moradores de Pegford, uma mancha em sua sociedade que alguns
acreditam que deve ser eliminada o quanto antes. Trata-se de Fields, um bairro
pobre na divisa do vilarejo com a cidade de Yarvil, onde vivem as pessoas
marginalizadas, os viciados e criminosos.
É nesse bairro que nasce Barry
Fairbrother, um dos conselheiros do vilarejo, que tem a capacidade de
conquistar as pessoas com seu jeito fácil e brincalhão. Ele é considerado um
dos poucos casos de pessoas nascidas em Fields que conseguiram “vencer” na
vida, e tem dedicado seu tempo e influência, defendendo a permanência de Fields
como parte de Pagford (seus adversários defendem que Fields passe a ser anexado
às fronteiras de Yarvil, tirando do vilarejo a responsabilidades pelo bairro e
pelas pessoas que vivem nele).
Logo no início do livro, porém,
Barry Fairbrother morre e é aí que a autora apresenta aos leitores a comunidade
e as pessoas que nela vivem, mostrando as diferentes reações à morte desse
homem tão importante, e dando início à uma disputa política para substituílo no
Conselho Distrital.
De um lado, temos as pessoas
que o amavam, que decidem defender seus ideais. Do outro, seus inimigos
políticos, ávidos pelo poder e em defesa da imagem imaculada de Pagford. E
ainda há pessoas que não tiveram suas vidas influenciadas diretamente por Barry
Fairbrother, mas que nem por isso devam ser ignoradas.
O ponto forte de JK é sua
construção de personagens e a importância que ela dá aos seus conflitos
internos, a aparência externa versus seus desejos mais íntimos. Se por um lado
grande parte dos personagens não está onde gostaria, por outro lá há alguns
muito satisfeitos em mostrar que são importantes, no controle das próprias
vontades e inabaláveis em seus tetos de vidro.
J. K. decide contar essa história através de cenas, como se estivéssemos assistindo a um filme ou uma série. Não é exatamente como o George R. R. Martim em "As crônicas de gelo e fogo" onde cada capítulo se refere a um personagem, mas o esquema é mais ou menos o mesmo. O livro é dividido em sete partes, cada uma subdividida por cenas marcadas por números romanos, sendo assim: Parte um, I, II, III, IV, etc. E cada uma dessas subdivisões se refere a um núcleo. Tem o núcleo da família Wall, o da família Mollison, o da família Weedon, o da família Jawanda, e por aí vai. A história vai se desenrolando lentamente, e cada coisa que acontece na cidade interfere de maneira diferente em cada uma dessas famílias. Não sei se vai agradar todo mundo, algumas pessoas preferem se apegar a um personagem e seguir a partir daí, mas eu acho que, quando você se acostumar logo de início com a narrativa, em algum momento vai se identificar com algum personagem.
Não sei se consigo falar sobre cada um dos personagens sem deixar esse post grande demais. Então, vou me focar em apenas um, Krystal Weedon, que representa todas as questões que me incomodaram durante a leitura. Não por ser mal trabalhadas, longe disso. Mas por lembrar situações que tenho assistido no “mundo real”.
J. K. decide contar essa história através de cenas, como se estivéssemos assistindo a um filme ou uma série. Não é exatamente como o George R. R. Martim em "As crônicas de gelo e fogo" onde cada capítulo se refere a um personagem, mas o esquema é mais ou menos o mesmo. O livro é dividido em sete partes, cada uma subdividida por cenas marcadas por números romanos, sendo assim: Parte um, I, II, III, IV, etc. E cada uma dessas subdivisões se refere a um núcleo. Tem o núcleo da família Wall, o da família Mollison, o da família Weedon, o da família Jawanda, e por aí vai. A história vai se desenrolando lentamente, e cada coisa que acontece na cidade interfere de maneira diferente em cada uma dessas famílias. Não sei se vai agradar todo mundo, algumas pessoas preferem se apegar a um personagem e seguir a partir daí, mas eu acho que, quando você se acostumar logo de início com a narrativa, em algum momento vai se identificar com algum personagem.
Não sei se consigo falar sobre cada um dos personagens sem deixar esse post grande demais. Então, vou me focar em apenas um, Krystal Weedon, que representa todas as questões que me incomodaram durante a leitura. Não por ser mal trabalhadas, longe disso. Mas por lembrar situações que tenho assistido no “mundo real”.
O que eu amei sobre Morte súbita foi justamente essa
proximidade com a realidade. Escolhendo uma pequena comunidade, JK Rowling
conseguiu retratar um retrato muito maior da sociedade, e conseguiu trazer isso
para perto dos leitores, mesmo aqueles que não vivem na Inglaterra, mesmo
aqueles que não vivem em cidades pequenas, mesmo aqueles que nunca conheceram
uma Krystal ou uma Terri ou um Robbie Weedon.
Morte súbita é um livro que fala sobre
as pequenas falhas de caráter das pessoas, suas vaidades, seus egoísmos e suas
hipocrisias. Mas também fala da sociedade, de como as pessoas preferem ignorar
certos problemas, como as drogas e a desigualdade social, fingindo que o que
falta aos outros é um pouco de autocontrole e senso crítico, e ignoram que
talvez o que falte é um pouco de compaixão e humildade para enxergar os
próprios defeitos.
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