*Resenha de 26 de março de 2011*
Okay, eu me formei em jornalismo e com certeza essa não é uma entrevista que eu gostaria de fazer. Francamente, vampiros nunca me fascinaram e, embora esteja mais simpática a eles agora do que em qualquer outro momento da minha vida, continuo sem entender o fascínio genuído que esses seres derpertam nas pessoas. Mas, isso, pode ser assunto de outro post, sendo assim... Vamos em frente.
As crônicas vampirescas de Anne Rice não fazem parte da minha lista de livros de cabeceira, pois, para ser franca, esse foi o primeiro que li, depois de vários comentários da minha amiga Ana, fã desses livros, e do meu namorado, igualmente fã e "RPGista" de Vampiro, A Máscara!
Portanto, vou me prender ao livro e somente a ele.
Terminei este livro há algumas semanas e só agora percebo que deveria ter escrito sobre ele antes de esquecer detalhes importantes. Então, vou começar pelos personagens:
Louis - Francamente, no começo e durante boa parte do livro esse personagem me cansou um pouco. Eu sou uma pessoa dramática e reflexiva, e também passo muito tempo remoendo arrependimentos de algo que deveria ou não ter feito. Mas a minha vida é efêmera e, em algum momento, assim espero, morrerei e minhas culpas morrerão comigo.
Mas Louis tinha culpas, muitas, que vou tentar resumir: Louis amava o irmão e, depois de uma briga, o garoto morreu caindo da escada (ou algo assim); Louis aceitou ser transformado em vampiro por causa do encanto que Lestat exercia sobre ele, e depois se arrependeu terrivelmente; Louis, após ser abraçado (momento em que o humano é mordido e transformado em vampiro), arrependido, descobre que tem que morder outras pessoas para sobreviver sugando o sangue das vítimas (devia ter pensado nisso antes).
Entendo o sofrimento do personagem, a depressão a que se entregou após a morte do irmão, toda a culpa que sentia por não ter dado ao irmão, que queria ser padre (realmente irônico), aquilo que ele acreditava ser necessário para seguir seu caminho. Também entendo que, como vampiro, e tendo o coração bondoso, Louis se encontrasse em um dilema eterno, literalmente, pois matar para sobreviver parecia extremamente cruel! E é! Então, Louis decide sobreviver a base de animais, para que sua culpa não superasse sua humilhação.
Além disso, o fascínio que Lestat despertava no Louis humano não se refletiu no Louis vampiro, que via em Lestat toda a crueldade e futilidade a qual não queria se entregar.
Eu não teria me incomodado tanto com o Louis se não fosse ele quem narrasse a história. Ou seja, o tempo todo, Louis fala de culpa, de remorso, de angústia. Eu até gosto, confesso. E não acho que um livro sobre vampiros deva, em momento algum, permitir que a história se torne menos densa do que seria a vida imortal e amaldiçoada. Nesse ponto, o texto é impecável e eu o invejo.
No entanto, é um pouco cansativo ver o personagem ir e vir com a mesma forma de pensar. Mas é igualmente recompensador quando, quase no final, Louis resolve "virar homem", digo, vampiro, e fazer o que era preciso! Foi aí, no finalzinho de tudo, que o personagem me conquistou. Demorou, mas fiquei orgulhosa dele! E depois, repensei toda a história dele. O saldo, para minha surpresa, foi positivo!
Lestat - O segundo personagem mais interessante do livro. (Louis não é o primeiro, na verdade, para mim, é no máximo o terceiro). Confesso que fiquei como Louis, sempre me perguntando se Lestat tinha algo a esconder, se ele tinha motivos fortes para não permitir que Louis e Claudia saíssem de perto dele. E fiquei imaginando como aquele vampiro, que no começo desse livro ainda tinha o pai vivo, havia nascido para a vida imortal.
Ele tem uma personalidade interessante, não exatamente cativante, mas expansiva, algumas vezes repulsiva, sim, mas ele é um vampiro com orgulho de ser vampiro, com mente de vampiro e atitudes de uma pessoa não muito normal. Ao contrário de Louis que é um vampiro com vergonha de ser o que é, arrependido de tudo o que foi e é, e com mente de homem. Não dá muito certo, né? No fundo, é a isso que atribuo a tristeza profunda de Louis, por não se aceitar o que é, não aceitar aquilo que decidiu ser e por não ser capaz de "deixar de ser", ou seja, sair ao sol e morrer! Parece bem simples, mas seu desejo pela beleza da vida e das coisas humanas, impediu que o fizesse.
Lestat não é assim. A imortalidade é uma dádiva, que faz com que as questões sobre a existência de Deus, do diabo e dos pecados, se torne algo insignificante. Afinal, se não há morte, não há julgamento de espírito e, para quem tem a eternidade nas mãos, o que são as regras? A própria história da humanidade nos apresenta padrões de comportamento profundamente modificados. O que antes não era visto com bons olhos, hoje em dia faz parte do cotidiano. Para um vampiro, a linha entre o certo e o errado é ainda mais tênue.
Não posso dizer mais nada sobre Lestat, pois esse foi o único contato que tive com ele e por boa parte do livro ele esteve "fora". Daqui a pouco, volto a falar dele.
Claudia - Essa sim é a melhor personagem do livro. Para ser sincera, ela é uma personagem diferente daquelas que costumam entrar na minha lista de favoritas, mas tenho que admitir que uma criança-vampira, com mente de vampira, corpo de criança, e mente de mulher-vampira é extremamente interessante!!! Cláudia é dona de uma personalidade forte, mente aguçada e sedução incomum para uma "criança", mas não para uma vampira.
Claudia é mais uma razão para que Louis se tornasse tão pouco interessante para mim. Ela aceitou a condição de vampira, embora ser sempre criança tenha lhe dado profundas insatisfações. Mas é fato que, se não fosse por ela, Louis não se mexeria. Se não fosse por ela Louis teria ficado para sempre na proteção de Nova Orleans, e na ignorância do que realmente significa a vida de vampiro.
Mesmo a crueldade vampiresca de Claudia é fascinante! Louis devia ter aprendido com ela...
(Okay, no momento, sinto meus valores e preferências serem jogados no lixo, percebendo o quanto gostei dessa personagem!!! Queria vê-la em outros livros... Mas...)
Seguindo... Louis e Claudia percebem que não estão satisfeitos com a condição de vampiro, sendo apenas sugadores de sangue e ladrões de vida. Por isso, decidem se aventurar pelo mundo em busca de outros como eles. Encontram um vampiro em uma cidade da Europa que, mais tarde, descobrem ser diferente deles. O que não lembro de ter sido explicado em outro momento, a não ser por essa frase "são diferentes de nós".
Mais tarde, Louis e Claudia (sua "filha-amante", coisa de vampiro...), encontram vampiros verdadeiramente como eles e, mais uma vez, Louis se vê perdido em arrependimentos, mas sobre isso, não vou falar.
(Engraçado, também foi por causa da Cláudia que o Louis mudou, mas chega de pegar no pé dele!)
(Engraçado, também foi por causa da Cláudia que o Louis mudou, mas chega de pegar no pé dele!)
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Anne Rice, a autora. |
Achei interessante o modo como os vampiros, em algum momento, percebem que "não aguentam mais", percebendo que tudo o que conheciam em vida desapareceu da Terra e que não conseguem mais acompanhar as mudanças. A eternidade passa, então, a ser uma maldição e uma opção que não é mais atraente.
Me irritei com a falta de compreensão do repórter, mas isso tem mais a ver com minha opinião de que, se existissem vampiros, e se eu fosse atacada por um e transformada, eu prefiriria, sem pensar duas vezes, morrer na primeira oportunidade que tivesse. Mas isso é questão de opinião e sei que tem gente que considera a vida eterna uma ótima forma de acumular conhecimento. Mas, eu pergunto: Qual o sentido do conhecimento e da cultura, se você não os usa para alguma coisa? Nem que seja para passar à diante. Se sua busca por conhecimento se limita a acumulá-lo e torná-lo exclusivo, então sim, é uma busca inútil. Porém, novamente a resposta para isso é questão de opinião e, se eu me prender a ela, sairei do assunto.
Considerações finais:
- Entrevista com o vampiro entrou definitivamente para a minha lista de livros preferidos, o que eu pensei que isso nunca aconteceria com um livro sobre vampiros;
- Anne Rice, a autora das Crônicas vampirescas, converteu-se após a morte de sua filha e começou a escrever livros sobre Deus;
- A narrativa em primeira pessoa (independente da autora, é mais uma coisa da personalidade de Louis) é um pouco cansativa, mas depois de um tempo, você realmente entra na história e nem a personalidade introvertida de Louis incomoda mais;
- Gostaria de ler outros livros de Anne Rice, mas isso não será algo que colocarei na minha lista de prioridades.
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Eu resolvi resgatar essa resenha, escrita há 9 anos, só porque eu ainda amo esse livro. Eu gostaria de reler, mas... como eu disse antes, há outras coisas nas minhas prioridades agora. Mas vale a pena conferir.
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